quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A foto e a alma

Eu já sabia que um dia sonharia com aqueles momentos que ficaram no passado, me transbordaria de recordações e me afogaria em saudade...

Original: De Vito Fotos

A foto e a alma

Quando me vejo em uma fotografia
Sinto inveja do momento que a mim não pertence mais
E que à foto pertencerá eternamente
Sinto impotência diante da fluidez do tempo
E da impermanência das coisas materiais
Eu me vejo naquela foto tão feliz e sínico
A debocharem de mim, a foto e o fato
Enquanto eu fico a me perguntar
Sobre o que mais ela tem me roubado
Talvez a juventude
Que em mim desaparece gradualmente
Com a chegada da velhice, as rugas
Enquanto ela se reveste de nobres tons sépias
Também há de roubar os amigos
Que o destino levará para longe de mim
Mas que com ela sempre estarão
Apesar de tudo, gosto das fotografias
Há que se respeitar o valor delas
Pois sei que lá na frente
Quando minha breve existência se extinguir
Será ela a mais fiel imagem do que fui
Caberá apenas aos que cativei
Preenchê-la com as memórias que deixei

Lucílio Fontes Moura

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Mudando de assunto (4)


Reflexões...
Foto: fotosdahora.com.br

Neste momento em que escrevo, me pego contemplando uma bela paisagem bucólica ao entardecer, um vasto campo, infinito campo a se perder de vista, pássaros em bando a voar, vacas mascando capim me deixam perplexo, como elas parecem viver o momento e só, será que não possuem metas, sonhos, vivem apenas do presente? Esse pensamento me trás arrepios, como seria não desejar mais nada? Qual seria o sentido da vida para uma vaca? Minha preocupação tem um motivo, a vida talvez só tenha um sentido para todas as suas unidades, independente de espécie. Então mudo a linha de raciocínio, fujo das armadilhas do pensamento. Deve existir outro caminho para se chegar a alguma resposta menos sombria, afinal, temos sempre as respostas que queremos ouvir. A vida, somos nós que fazemos. Agora que já é noite e tudo escurece, mudo o prisma de ângulo, deixo a vaca de lado, agora sou observador de mim mesmo, neste lugar sereno em que me encontro, canto dos grilos, som do vento no rosto, como é linda a existência, que bom sentir essa sensação, como tudo é tão romântico nesse momento, e o coração a pulsar mais forte, respiro fundo, quero mais desse momento, me embriagar de vida, eis que me vem chegando sorrateiramente, a voz de um pequeno príncipe, e ele diz: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. Penso que devo estar chegando a algo, posso sentir, a natureza... sim, a origem, a nossa natureza, o que seria? Está tudo bem aqui, tão óbvio, e por isso mesmo tão difícil de enxergar, mas eis que me vem um insight, e tudo fica claro! Com um ar de desconfiança, como todo bom detetive, começo a revisar as pistas deste pensamento que já aflora em minha mente de algum lugar que desconheço em mim, a essência humana é exatamente isso, essa busca incansável por respostas para tudo, é esse querer insaciável pelo conhecimento, é como o ruminar sem fim das vacas, é esse nutrir constante. Passado esse breve momento de êxtase, sou tomado por um momento de decepção e, em seguida, satisfação, afinal, a minha conclusão não é tão original assim, no mínimo um grande escritor, Douglas Adams, autor de um grande clássico "geek" (uma expressão mais cool para "nerd") “Guia do Mochileiro das Galáxias”, já teria contado esse segredo em suas páginas ao comparar o planeta Terra com um grande computador, no qual os seres humanos eram componentes importantes na busca pela resposta fundamental sobre a vida o universo e tudo mais. Respiro fundo, imagino que o pequeno príncipe sorri para mim de algum planetinha neste tão vasto céu, já tão estrelado que agora já faz noite aqui no campo. Coisa tão rara de se ver nas cidades, os astros há muito se mudaram de lá, acho que vieram buscar uma paisagem mais bonita de natureza primitiva, devem pensar que definitivamente os homens são loucos por viverem empilhados em concreto, enfileirados em latarias sobre rodas, respirando fumaça, ouvindo barulho, comendo industrializados... mas penso que não há como culpar o ser humano por isso, é sua natureza ir além do que há, transformar e modificar, o conhecimento cobra o seu preço... neste momento ouço uma voz familiar a chamar por meu  nome, interrompo minhas reflexões e sigo em direção à voz... quero descobrir porque me chamam...






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