domingo, 3 de junho de 2012

Por lá ficou


Fiz algo diferente para a postagem de hoje, montei um vídeo. Este vídeo é uma tentativa de passar com maior fidelidade as minhas intenções como artista Eu acredito que arte é isso, ela não se limita, ela inclui todo o contexto e situação do momento em que ela é criada e em que ela é observada, e por isso se abre espaço para infinitas interpretações e releituras. Editei este vídeo que contém o que escrevi junto com o som que me inspirou a escrevê-lo e um pouco da aura do momento em tudo foi criado. Acho que o vídeo irá guiar melhor o leitor, mas caso prefiram postarei o texto logo abaixo.  Espero que gostem! 


Por lá ficou

Era dia das mães e ele tinha saído na noite anterior. Acordou à uma da tarde, atrasado para o almoço em família. Levantou-se rapidamente da cama, tomou um banho, jogou um perfume no corpo, vestiu uma roupa apropriada e saiu de casa às pressas.
Ainda estava decidindo o que levaria de presente para sua mãe e se levaria também alguma lembrança para as outras mães presentes, conforme os bons costumes recomendavam.
A caminho do metrô, passou por uma pequena barraca de flores, dessas propositalmente montadas para datas comemorativas. Olhou rapidamente entre tantas opções e decidiu levar um vaso de margaridas para a mãe e algumas rosas avulsas para distribuir entre as outras mães que estivessem presentes no almoço. Ouvira dizer em algum lugar que margaridas traziam alegria e achou uma ótima idéia presentear a mãe comprando-lhe um pouco de alegria.    
 Pagou à dona da loja, colocou sua mochila nas costas, olhou o relógio, segurou vaso e flores como pôde e acelerou o passo. Estava definitivamente muito atrasado.
Em sua mente, vagavam muitos pensamentos, disputando atenção com informações do meio por onde passava.
A noite passada, mais uma entre tantas, vazia como outras tantas. Fumaça, laser led e luzes reticentes na escuridão confusa, embriagante. Um beijo, dois, três. Vazios. Vida e aborto em pequenos espaços temporais. Corpos vazios de alma. Sentimentos voláteis. Vida vazia de sentido.
Faltava ainda um quarteirão para chegar à estação de metrô. Pensava agora em uma boa desculpa para dar pelo seu atraso. Todos certamente já estariam almoçando quando chegasse. Deveria se fazer de vítima por não o terem esperado, enquanto distribuísse as flores? Ou então, diria que o atraso fazia parte da surpresa? Apenas distribuiria as flores e faria algum discurso, ficariam tão comovidos que nem se importariam com o atraso. Apressou mais o passo. Atravessou a rua, imerso em seus pensamentos, distraído. Um carro passou em alta velocidade. Rosas e alegrias despedaçadas para todos os lados. Encontrou o que queria, não sentiria mais solidão, não precisaria mais de desculpas. Por lá mesmo ficou.


Lucílio Fontes Moura