sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dica de leitura (3)


Título: Paris a festa continuou - a vida cultural durante a ocupação nazista, 1940-4
Autor: Alan Riding
Número de páginas: 464
Editora: Companhia Das Letras
Para quem curte história da 2ª guerra mundial e tem curiosidade para entender como se comportou a nação francesa após terem seu país  ocupado pela Alemanha de Hitler.

O livro de Alan Riding passa por um estilo de crônica do cotidiano e  história das mentalidades, e por isso torna-se tão interessante. O autor aborda as divergências nas atitudes tomadas pelas personalidades e classes da sociedade francesa durante a invasão alemã ao país e o quão curioso o fato de a guerra não ter  interrompido na vida cultural desta nação. O livro é recheado de relatos interessantes sobre muitas personalidades da época mas peca pelo excesso, se torna repetitivo e cansativo a medida que o autor insiste em contar caso por caso. A lista de personagens descritos é infindável fazendo o leitor leigo se perder em nomes. Mas apesar de massante o livro recompensa o leitor mais paciente pois nele encontramos diluído em suas páginas relatos incríveis sobre a perseguição aos judeus, a guerra ideológica entre a impressa colaboracionista e as publicações clandestinas, o contraste da boa vida da elite abastecida pelo mercado negro e a miséria da maioria da população, as ousadias, hesitações e contradições de artistas e escritores como Picasso, Sartre, Céline e Camus.

"[...] Provavelmente nenhum outro país(França) ilustra tão bem os perigos que corre uma população educada para reverenciar teorias: torna-se um terreno fértil para os extremismos. [...] Sem dúvidas, durante grande parte do século XX muitos escritores e intelectuais franceses proeminentes propagaram doutrinas [...] que ofereciam explicações e soluções para tudo. Se os intelectuais franceses não desfrutam mais da autoridade que antes os caracterizava, isso se deve ao fracasso dessas doutrinas e da dissolução das miragens utópicas. [...] nem eles acreditam mais que as ideias, por si, possam resolver os problemas da vida." 


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Memórias de um timoneiro

"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..." (Mario Quintana)
E com essa oportuna citação inicio esta nova postagem no blog. O que é a saudade senão a vontade de ter aquilo que outrora não nos faltava. A saudade sempre está a nos lembrar de que o tempo passa, e como passa. 

Mas não devemos tomar a saudade como um sentimento ruim, pelo contrário, sentir saudade significa que vivemos momentos bons, conhecemos pessoas inesquecíveis, fomos inesquecíveis, e isso não significa que ainda não vamos presenciar mais coisas boas. 

A saudade nos ensina a dar valor ao que é presente, porque o passado nada mais é que o presente que se foi, mas aquele não pode ser reescrito enquanto este a gente cria. E o futuro? O futuro também é consequência do que se faz no presente. Ter saudade é lembrar dessa dupla importância do presente, o que se faz agora determina onde estaremos e do que lembraremos. Pensem nisso, "a vida é muito para ser insignificante". 
  



Memórias de um timoneiro

Dentro de um cartão postal maravilhoso
Vejo-me desafiado por um gigante.
Como gritar mais alto que o infinito,
Quando tudo que se tem é o instante?

Todo remar é um desafio a si mesmo
Descer a raia é antes um exercício de coragem
Superação. A vida está bem diante de nós

Uma dúvida sempre me acompanhou
Como se conquista a eternidade?
E a lição sutil, silenciosa, quase submersa
A flutuar sobre a superfície das águas
Harmonia, equilíbrio e movimento
Alimentados por nosso sangue e suor

Em nós reside a essência desse esporte
Do timoneiro, a vontade de conquista
Do remador, força e garra inabalável
Do técnico, sabedoria e experiência

Cada um cumpre seu papel no barco
O timoneiro visualiza a meta, o objetivo
Mas sozinho não consegue seguir
Pois somente remadores sabem voar
De um modo tão sublime e inusitado
Portadores das asas que voam n’água
Que por sua vez precisam ser domadas
E para isso um técnico, um velho coroco
A aconselhar, a corrigir, implacável
Sem papas, sem medo, um louco

Todo dia é um ensaio rumo à perfeição
A descida na raia se assemelha a vida:
Uma infância breve e determinante;
Uma juventude de maturidade e concentração;
E um final firme, fugaz e fulminante

Todos buscam desta trajetória
Um sentimento quase único
Que é fruto de sacrifício
Conquista da vitória
E certeza da liberdade
É um misto de glória,
Delírio,
E eternidade

Lucílio Fontes Moura


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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Dica de leitura (2)



Título: Na pior em Paris e Londres
Autor: George Orwell
Número de páginas: 249
Editora: Companhia Das Letras
Para quem: para quem deseja compreender melhor as condições em que se encontram milhões de seres humanos, os esquecidos, para quem quer conhecer a pobreza e a miséria sem sair do conforto de sua casa.

"Na pior em Paris e Londres" não é das obras mais famosas de George Orwell como os clássicos "1984" e "Revolução dos Bichos", mas certamente há um motivo para isso, esta obra foi a primeira lançada pelo autor com seu pseudônimo George Orwell (seu  nome verdadeiro é Eric Arthur Blair). O livro de fato nem se compara com os clássicos do autor, mas ainda sim achei muito interessante a perspectiva original que ele apresenta para abordar um assunto que é no mínimo um tapa na cara da sociedade.
        Para escrever esse livro o autor sente na pele a experiência da pobreza o que nos dá uma imagem fiel do que passam os mendigos nas cidades grandes. Por volta de 1928, o autor, vive experiências de extrema pobreza em Paris e Londres, por onde passou fome, foi roubado, trabalhou em restaurantes sórdidos onde foi totalmente explorado, se alojou em albergues sujos com muito pouco dinheiro.
     Comprei o livro porque achei interessante conhecer esse lado, nós precisamos conhecer para entender o que se passa, compreender o próximo. Enfim, recomendo esta leitura para aqueles que perderam a sensibilidade e desumanizaram aquele ser que vive nas ruas e que nada mais é do que um semelhante, um ser humano como qualquer um de nós.
       
       "[...] quando você se aproxima da pobreza faz uma descoberta que supera algumas outras. Você descobre o tédio,e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro.[...] Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: 'Em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante não?' E então sua mente 
divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu próprio analgésico. 
E há outro sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamente na pior. Tantas vezes você falou sobre entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade." ( George Orwell em "Na pior em Paris e Londres")





quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Mudando de assunto (3)

31 de outubro de 1902, nascimento do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, data que está sendo chamada de Dia D. Este ano Drummond estaria completando 110 anos.
O que Drummond significa para mim? É o poeta que mais influenciou meu estilo de escrita, posso dividir minha poesia em antes e depois de Drummond. O primeiro livro de poesias que li dele foi "A rosa do povo" e suas poesias geraram um enorme impacto em mim, me despertaram uma certa liberdade e gosto pela contemporâneidade, toda aquela forma de captar sentimentos, as angustias e as dores de seu tempo. 
Lembro que assim que terminei de ler "A rosa do povo", escrevi um poema de inspiração drummondina, que se chama "Fluxo de vida" e inclusive está postada neste blog --->  http://poetailusionista.blogspot.com.br/2010/08/meu-eu-escondido.html



Para quem também curte Drummond, uma série de eventos serão realizados hoje, neste link que deixarei a seguir vocês serão direcionados ao blog do diaD onde há uma lista com a programação de tudo que será feito em comemoração a esta data tão importante para a literatura brasileira.

http://diadrummond.ims.uol.com.br/

domingo, 14 de outubro de 2012

Literatura brasileira


Começa hoje a série "Literatura brasileira", quadro em que pretendo apresentar grandes estilos e formas de escrita de autores brasileiros. E para inaugurar escolhi um autor nascido em Cantagalo (RJ), no dia 20 de janeiro de 1866. Que além de escritor, foi professor, engenheiro, sociólogo e repórter jornalístico, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua obra-prima, “Os Sertões”, que retrata a Guerra de Canudos. O escritor a que me refiro é Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha.



Dono de um estilo considerado pré-modernista, Euclides da Cunha ficou conhecido por sua estética conservadora: parnasiana e naturalista, mas também renovadora: proximidade com a realidade brasileira e as tensões vividas pela sociedade da época.

Percebam a dramaticidade e refinamento de seu estilo:

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas”.

"[...] é um cadáver claudicante. Foi ferido há dois meses pela explosão de um shrapnel quando se acolhia ao santuário. Uma bala atravessou-lhe o braço e a outra o ventre. E este ente assim vive, há dois meses, numa inanição lenta, com dois furos no ventre, num extravasamento constante dos intestinos."




quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dica de leitura

Título: A cura de Schopenhauer:
Autor: Irvin D. Yalom
Número de páginas:336
Editora: Ediouro
Para quem: para aqueles que desejam conhecer um pouco sobre o filósofo Schopenhauer, mas não tem muita afinidade com os densos textos do filósofo.
 
A história começa com o psiquiatra Julius Hertzfeld, que descobre ter um câncer sem cura. Toda perspectiva do mundo muda quando Julius se vê com os dias contados. Ele resolve fazer um balanço de sua vida profissional e decide procurar por um paciente, Philip Slate,que sofria de compulsão sexual, a fim de saber se suas consultas o ajudaram de alguma forma. Eles se encontram e de muitas conversas surge um acordo entre os dois: Julius vira tutor de Philip para que este possa trabalhar futuramente com consultas e em troca ele participa do grupo de análise de Julius. 
O romance aborda basicamente um incrível embate entre pacientes e terapeuta, em que cada um expõe seus medos, defesas e fraquezas e aprendem a serem mais humanos e felizes.
Outra característica do romanceé que possui pouca ação, afinal de contas a maior parte da história se passa em consultório, e para quebrar um pouco a monotonia,  Irvin D. Yalon intercala os capítulos da história em si com capítulos que abordam a vida do filósofo Schopenhauer desde sua infância até sua morte. De quebra o livro ainda trás consigo importantes passagens das obras de Schopenhauer, cujos temas giram em torno de assuntos como a morte, a insaciável vontade humana e a força do desejo sexual.
O autor, ao escrever “A cura de Schopenhauer”, repete a fórmula de sucesso que obteve ao escrever “Quando Nietszche chorou”, uma maneira leve e interessante de introduzir a história e obra de filósofos tão importantes para a humanidade, e por isso acho que o livro é imprescindível para aqueles que desejam conhecer mas não querem se aprofundar muito ou não possuem muita afinidade com pesados textos filosóficos.

domingo, 30 de setembro de 2012

Raíz quádrupla

Por causa de alguns problemas técnicos ainda não dei inicio às minhas resenhas literárias, mas enquanto isso, postarei um novo poema que escrevi e que dá uma boa dica do primeiro livro que vou apresentar aqui no blog. 

"A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos."Schopenhauer
Toda a humanidade vive esse conflito, buscamos - todos - a felicidade, e atualmente, certos ou errados, seguimos o caminho do materialismo como o melhor para alcançá-la, ao mesmo tempo em que criticamos o superficialismo das coisas e o desapego com os valores que outrora eram os responsáveis pela verdadeira felicidade. 
Eu vivo este conflito em mim, presencio momentos em que me permito o hedonismo em nome de uma satisfação temporária, há em mim um culto ao prazer proporcionado pelo materialismo, crio uma perspectiva de frenesi sobre a vida, penso que para valer a pena ela deve ser intensa, e que devemos nos entregar de cabeça ao mundo material, que a vida é mesmo de ilusões, que devemos enfeitá-la inventado significados ao nosso bel prazer. Outros momentos me pego criticando esta fraqueza minha, esse meu vício às futilidades, penso que desperdiço meu tempo com superficialidades quando deveria estar me dedicando às faculdades da mente, à contemplação e compreensão da verdadeira natureza das coisas, na busca pelo conhecimento, na busca pela verdade, se livrando de tudo o que é falso e ilusório. Mas este é um caminho de profundo mergulho na depressão, rumo à frieza e indiferença da realidade diante de nós seres vivos, "de niilismo nunca estamos sós...". 
Fiquem com um poema que escrevi inspirado em um influente filósofo alemão do século XIX que começo a conhecer.





Raiz quádrupla

Procuro por uma palavra
Quero a mais dócil e obscura
Arrogante mas precisa, sublime
E que corte e sangre na carne
Da verdade. E ignore a humanidade
Sem escrúpulos e medo da rejeição
Vidro... Escárnio... Lâmina...
Que seja profundo pesar
E que viva em eterno temor
Que triture sentimentos
Ao menos os frugais, banais
Que condene a vontade
E expurgue a felicidade
Que desmoralize o pódio
Repressão... Tortura... Ódio...
Que não tema a morte
Que negue todo o viver
Em sua forma mesquinha de ser
Que represente a raiva fugaz
Sobre toda a ignorância
Que represente intensamente
Todo o abismo da solidão
                      ...Schopenhauer

Lucílio Fontes Moura


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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Mudando de assunto (2)




Darei início a uma nova seção aqui no blog. Pretendo começar a falar sobre um dos meus hobbies favoritos: livros. Trarei para vocês dicas de livros muito bons para serem lidos, já adianto que leio um pouco de tudo, e não me guio por best sellers apesar de as vezes eles se tornarem irresistíveis e entrarem na minha lista também.

Portanto esperem um pouco de tudo, romances, científicos, antologias poéticas, auto ajuda, clássicos, filosóficos, geeks e até infantis, mas não se preocupem pois tratarei de informá-los com antecedência sobre o tema.

Tenham certeza de que só trarei os livros que já li, afinal de contas, como aconselhar o uso de um produto de cuja qualidade desconheço, e trarei os bons, mas é claro que essa é a minha opinião e por isso será ótimo saber a opinião de vocês. Também estou aberto a sugestões de leitura.

Nesta postagem ainda não trago nenhum livro, mas agaurdem que muito em breve posto aqui o primeiro de minhas recomendações. Só adianto que é um livro que ensina a morrer, calma, vocês vão entender! Alguém tem algum palpite sobre qual livro vou falar? 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quanto tempo uma poesia leva?


Hoje é dia de metapoema. Escrevi este quando voltava do treino de remo na lagoa, estava no ônibus a pensar sobre tudo, como um rodízio de ideias, elas vinham e iam embora, me perguntava quanto tempo levaria para chegar em casa com o trânsito lento que estava enfrentando. E daí me surgiu a pergunta - e a resposta me veio logo em seguida, fluindo tão leve que tive que correr para anotá-la antes que me escapasse no meio daquele tumulto de veículos - mas afinal de contas, quanto tempo uma poesia leva? 





Quanto tempo uma poesia leva?

Leva o tempo que for
Que dispor
                Ou que durar o sentimento
O desalento
                Ou contento
Se não houver contra tempo
Se eu bem me lembro
É o tempo de um sonho
                Da imaginação
Da alegria,
                Da magia
Leva uma vida toda
De inspiração.

Lucílio Fontes Moura


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sábado, 25 de agosto de 2012

Quanto à desilusão


Nós seres humanos somos seres contraditórios e não há nada que possamos fazer quanto a isso, faz parte de nossas limitações, é a nossa natureza. Dizemo-nos seres tão racionais, mas há muito de irracional em nossas atitudes. A boca que fala em liberdade é a mesma que aprisiona. A mão que acaricia é a mesma que agride. Não se sinta tão seguro de suas ideias e opiniões, pois no final das contas ninguém faz muito sentido. Devemos respeito a todos os seres humanos já que a verdade é inalcançável e nossos conceitos são mutáveis. Se não respeitamos pois não concordamos com certas atitudes, que respeitemos simplesmente por sermos semelhantes, e sendo assim, sujeitos aos mesmos erros. 





Quanto à desilusão

Quando uma ilusão se esvai
O mundo cai em devastação
E de volta à realidade indiferente
À nossa natureza tão impotente
Preso a sentimentos onipresentes
Que nos deslocam por necessidades
Tal como fossem perversidades
Eu vejo o meu ser deslocado
Sempre muito equivocado
Tão distante da felicidade

Poesia é sintoma de saudade
É fuga desta realidade
É grito alto no escuro
Num mundo mais que obscuro

Aos poucos
O espírito enfraquece
A alma se apequena
Efêmera quão pena
Em qualquer canto
Seu sofrimento nasce morre
De um quase seco pranto

Quanto à desilusão
Abrir os olhos nem sempre é bom
Em sonhos me agarro sem calma
Como vampiro a sugar vitalidade
Não me importa se não é sangue
Não é para o corpo, é para a alma
E é da alma que esta se faz existir
E assim se vive neste mutualismo
De poesia sintomas, puro lirismo
Viver a vida é também se iludir.

Lucílio Fontes Moura

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Humanidade Amoral

Se veio aqui em busca de respostas, saiba que não as encontrará em meus poemas. Não tenho a pretensão de ser um ponto final nas complexas questões da vida, estou mais para uma interrogação inquietante sobre tudo. Tampouco espere por opiniões formadas pois não me agarro a ideais, vivo fases. Mas se procura por inquietação voraz, verdades ilusórias, questionamentos obscurecidos, saiba antes que é um caminho sombrio, doloroso e solitário, para poucos e corajosos. Se é por este tipo de aventura que está procurando, seja bem vindo ao Poeta Ilusionista.

 

Humanidade amoral

Nossas escolhas dizem muito sobre nós mesmos
Tudo depende do ângulo que se vê: certo ou errado?
Quanto à moral cristã, luz demais também cega
Baseadas em quê mesmo são criadas as regras?
Eis o Martelo de Nietzsche a pregar sua filosofia
Mas quão longe seu Super Homem chegaria?
Vivendo em um pobre mundo dionisíaco
De desejos cumpridos, sonhos paradisíacos
Eis como se mata um jovem imortal
E quem diria, a emoção aliada a seu algoz
De niilismo nunca estamos sós
Um grito contido preso ao limbo vital
Sequer nasce, é morto
Aborto natural?
Que vida de mistérios
Sobrenatural?
É a lei, é a física
E é amoral

Lucílio Fontes Moura



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domingo, 29 de julho de 2012

Fábrica de Ilusões

   Dando continuidade ao tema deste meu blog, irei explorar a ilusão a qual todos nós estamos sujeitos nos dias atuais, a ilusão que forja um ser humano superficial, insatisfeito, deslocado,consumista e acima de tudo infeliz. Trata-se de um poema forte mas sufocado e quase cínico, pois é quase difícil de enxergar algo que nos é ensinado desde cedo como normal.




Fábrica de ilusões

·                      Do capitalismo financeiro
(Especulativo e ilusório)
·                     Da economia de valores humanos
(Falta de ética, mentiras, enganos)
·                     Da escassez de significado para a vida
(Sem esperança e sem saída)
·               Da produção em escala
(Sobra em excesso, ao povo migalhas)
·                     Do consumismo exacerbado
(Totalmente desenfreado)
·                    Do marketing de simulacros
(A inventar necessidades
e a encobrir as de verdade)
·                    Do setor financeiro
(Reduzindo o custo próprio,
aumentando o alheio)
·                    Do resultado do exercício
(Amor líquido, fluidez, vício)
·                    Da fábrica de produção em massa
(Cujo principal produto é uma vida de farsa)
·                    Do seu principal insumo
(Ilusão! Bom consumo!) 

Lucílio Fontes Moura


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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Feliz dia do amigo!

Aproveitando esta data de hoje que de mera convenção lá tem sua utilidade. Pois que fique de hoje combinado que o exercício da amizade é excelente todos os dias. Escrevi algo para hoje, é claro, espero que gostem!

Feliz dia do Amigo!



Se algo aprendi sobre a amizade
Pois que o vivo e sendo assim é verdade
É que o tempo juntos faz amadurecer
Enquanto a saudade forte faz fortalecer

Assim nasce um elo, uma conexão
De frases completadas e adivinhação
Quase mágica, telepática, incomum
Nas conversas, pensamentos em comum

Quando a boa amizade é o que se tem
Passa o tempo, dia vai e dia vem
Não há escuridão que provoque desalento
Juntos estaremos, mesmo que em pensamento

É assim nossa amizade,
De siameses conectados via wireless
De idéias em comum sem evidências
Com um destino desses
É quase difícil acreditar em coincidências

Lucílio Fontes Moura


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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pluralidade


Acho que o que torna a poesia sempre única é a carga de experiências, vividas de um modo único pelo autor, contidas nela. Ao ser escrita, a poesia fica impregnada de vivência e por isso conhecer o autor é fundamental para compreender seus escritos. E toda a poesia é construída de camadas, pode-se alcançar toda a essência do autor ali, em poucas linhas, quanto mais se cava, mais se descobre, poesia é coisa infinita. Hoje posto um poema que é fruto de reflexões filosóficas minhas, e quem nunca pensou nessas questões de existencialismo e de identidade que atire a primeira pedra.




Pluralidade

Consegue sentir a escuridão deste som
Que neste exato momento está a ouvir?
Este som é silencioso segredo subjetivo 
Num corpo irracional que nada sabe
É a razão de um ser que dele se vale

Ainda falta saber
Quem sou Eu?
Quantos sou Eu?
O que é afinal o Eu?

Nesse mutualismo misterioso sem se definir
Sabe-se apenas da condição de existir
O ventrículo controlado é a própria prisão
Mas não se sabe o que está preso,
Tudo é mera ilusão

Mas tudo é um breve contratempo
Brinca a equação no espaço-tempo
Com as suas infinitas variáveis
Gira a roda do destino
Multidimensões
Todas as possibilidades.



            Lucílio Fontes Moura


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domingo, 3 de junho de 2012

Por lá ficou


Fiz algo diferente para a postagem de hoje, montei um vídeo. Este vídeo é uma tentativa de passar com maior fidelidade as minhas intenções como artista Eu acredito que arte é isso, ela não se limita, ela inclui todo o contexto e situação do momento em que ela é criada e em que ela é observada, e por isso se abre espaço para infinitas interpretações e releituras. Editei este vídeo que contém o que escrevi junto com o som que me inspirou a escrevê-lo e um pouco da aura do momento em tudo foi criado. Acho que o vídeo irá guiar melhor o leitor, mas caso prefiram postarei o texto logo abaixo.  Espero que gostem! 


Por lá ficou

Era dia das mães e ele tinha saído na noite anterior. Acordou à uma da tarde, atrasado para o almoço em família. Levantou-se rapidamente da cama, tomou um banho, jogou um perfume no corpo, vestiu uma roupa apropriada e saiu de casa às pressas.
Ainda estava decidindo o que levaria de presente para sua mãe e se levaria também alguma lembrança para as outras mães presentes, conforme os bons costumes recomendavam.
A caminho do metrô, passou por uma pequena barraca de flores, dessas propositalmente montadas para datas comemorativas. Olhou rapidamente entre tantas opções e decidiu levar um vaso de margaridas para a mãe e algumas rosas avulsas para distribuir entre as outras mães que estivessem presentes no almoço. Ouvira dizer em algum lugar que margaridas traziam alegria e achou uma ótima idéia presentear a mãe comprando-lhe um pouco de alegria.    
 Pagou à dona da loja, colocou sua mochila nas costas, olhou o relógio, segurou vaso e flores como pôde e acelerou o passo. Estava definitivamente muito atrasado.
Em sua mente, vagavam muitos pensamentos, disputando atenção com informações do meio por onde passava.
A noite passada, mais uma entre tantas, vazia como outras tantas. Fumaça, laser led e luzes reticentes na escuridão confusa, embriagante. Um beijo, dois, três. Vazios. Vida e aborto em pequenos espaços temporais. Corpos vazios de alma. Sentimentos voláteis. Vida vazia de sentido.
Faltava ainda um quarteirão para chegar à estação de metrô. Pensava agora em uma boa desculpa para dar pelo seu atraso. Todos certamente já estariam almoçando quando chegasse. Deveria se fazer de vítima por não o terem esperado, enquanto distribuísse as flores? Ou então, diria que o atraso fazia parte da surpresa? Apenas distribuiria as flores e faria algum discurso, ficariam tão comovidos que nem se importariam com o atraso. Apressou mais o passo. Atravessou a rua, imerso em seus pensamentos, distraído. Um carro passou em alta velocidade. Rosas e alegrias despedaçadas para todos os lados. Encontrou o que queria, não sentiria mais solidão, não precisaria mais de desculpas. Por lá mesmo ficou.


Lucílio Fontes Moura












terça-feira, 22 de maio de 2012

Ô fome!


Desvirtuando-me um pouco das minhas temáticas de costume, hoje postarei uma obra escrita durante minha fase de adolescente - provavelmente tinha 15 anos na época em que a escrevi. Ah! A adolescência! Fase de desejos intensos aflorando em nosso ser - tanta novidade!



Ô fome!

O que é bom que nem torta de limão?
Seu beijo aguçando o meu desejo
Eu fico doido, enlouqueço
E quase esqueço de toda a minha privação.

Meu Deus! Que sabor tem este céu!
Por que o anjo que caiu aqui é doce feito mel
É loucura, tentação, provação, gula e pecado
Vou para o inferno carregando comigo este fardo.

O sal do seu corpo
Realça a minha vida
É o tempero da minha comida
Coisa mais divina não deve existir na Terra.

Com este fogo que arde dentro de mim
Não existe carne que não cozinhe
Tu és refeição para um dia,
Um mês, um ano ou uma vida.

Bendita é a hora que você veio
Para saciar minha fome, meu desejo
A receita trancada a sete chaves
Um mistério profundo ou quem sabe um milagre.

Lucílio Fontes Moura


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sábado, 31 de março de 2012

Cegueira social

As redes sociais são uma incrível ferramenta para estudo do comportamento das sociedades, acho que aprofundaremos bastante nossos conhecimentos no assunto. Conhecimento este que pode ser utilizado tanto para o bem quanto para o mal. Ultimamente tenho observado bastante como as idéias e os ideais se apoderam das pessoas formando uma enorme massa de humanos a defender sua existência no mundo. 
E então o que se tem são pessoas defendendo algo sem nem ao menos terem o conhecimento aprofundado sobre determinado assunto, tudo porque estão preocupadas demais em serem iguais, cegamente são controladas. Ilusão é controle. Controle é poder.



Cegueira social

Sobre a visão da ótica em questão:
A palavra não falada
Grita silenciosa
A voz que é calada
Atua misteriosa
Pressão de submundo
Cala nó mudo.

Sob a visão da ótica em questão:
É mais um neste mundo
Onde não há diferenças
Nem sentenças
7 bilhões de iguais
E chegam mais
E mais...

Ainda sob a visão da ótica em questão:
Eis o cego social
Aquele que não vê o que não veem
E aquilo que não se vê não existe
A verdade se nega, mente?
Cegueira alimentada de ilusões
Morte, ódio, desumanizações.

Sob outra ótica que não a em questão:
A pedra é a semente
Que o algoz semeia
De onde nasce a Árvore da Revolução
E o fruto de sua própria destruição...
Ideológica... Ilógica
De idéia sinótica

Sem ótica:
Cegueira social


Lucílio Fontes Moura


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